quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Outback

Mudança radical de cenário na minha trip pela Austrália. Saí da agitada costa leste e fui parar no meio do deserto. Vou contar como foi a minha experiência no vermelho, quente e seco Outback australiano.

O Outback fica localizado no coração da Austrália, no estado do Território do Norte. É chamado de Centro Vermelho e melhor nome não teria pra representar a cor do solo e das montanhas que contrastam com o azul do céu no plano de fundo. É uma das paisagens mais antigas do mundo, formada a cerca de 800 milhões de anos. A região do Outback foi habitada pelos aborígines há mais de 30 anos e ainda é uma área sagrada para o seu povo. É lá que fica um dos mais famosos, se não o mais, símbolo da Austrália: a grande pedra vermelha, o Uluru.

Peguei um avião de Cairns na manhã do dia 19 e desembarquei na cidade de Alice Springs depois de pouco mais de duas horas de vôo. Alice Springs é a principal cidade do Outback. A cidade surgiu a partir da construção de um posto de telégrafo construído em 1870 para facilitar a comunicação no deserto. Em 1929 a ferrovia chegou e em 1940, as estradas. Os turistas começaram a descobrir o Outback a partir dos anos 70, quando Alice Springs finalmente se desenvolveu. Hoje é uma cidade moderna e ponto de partida pros passeios no deserto. Não tem muito o que fazer em Alice Springs, além de pechinchar pinturas aborígines dos próprios artistas que trabalham no chão do centro da cidade. Infelizmente ví muitas vezes grupos de aborígines quebrando o encanto da sua cultura bêbados pelas ruas dando muito trabalho.

Foram três dias de excursão percorrendo de ônibus o deserto plano e árido praticamente com a mesma vista km após km. Durante o passeio pegamos calor de 39° C e sensação de 39° X 39°, sufocante. O clima era tão seco que o nariz chegava a sangrar. Acampamos as duas noites debaixo das estrelas, dormindo dentro de sacos de dormir sem barraca, no chão mesmo, junto com lagarto, escorpião e sabe lá que o que mais. Na segunda noite armei minha cama em cima do trailer das bagagens pra evitar as formigas de fazerem festa em quem gosta de uma reação alérgica. A criaturinha que ganhou o prêmio miss irritante do deserto foi a mosca. Era um zum-zum-zum sem pausa, mosca no olho, dentro do nariz, na boca. Eu mesma engoli três. Atrevidas!

A principal atração do Outback é o Uluru-Kata Tjuta National Park, um parque nacional que abriga a famosa pedra vermelha Uluru e o conjunto de 36 rochas que levam o nome de Olgas. O Uluru é uma das maravilhas naturais do planeta, o maior monolito do mundo. Cada dia centenas de turistas assistem a pedra ganhar uma cor vermelho-vivo durante o nascer e o pôr-do-sol. Nosso grupo também estava lá de prontidão pra registrar os segundos. Momentos lindos!

Fizemos uma caminhada pela base da pedra que parece nunca ter fim com seus 9.4km de percurso. Também exploramos as Olgas, ou Kata Tjuta, e seus vales durante um passeio absurdamente quente de três horas. No Outback ainda andamos de camelo – um bicho desengonçado, visitamos o Centro Cultural Aborígine que exibe a filosofia de vida de seu povo, e conhecemos o Kings Canyon em uma caminhada de 6km beirando um alto desfiladeiro.

Com vocês, o coração da Austrália:

Uluru
Ganha um pirulito quem descobrir o que tem de errado com a placa do canguru... Pensa na minha indignação!

Kata Tjuta

Kings Canyon

Aqui foi gravada uma cena do filme Priscilla, a Rainha do Deserto.

Camelando

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Fim de etapa

Cheguei ao fim da minha trip pela costa leste da Austrália. Da saída de Sidney no dia 24 de novembro até hoje, 19 de dezembro, foram 52 horas de estrada, onze paradas, muitos novos amigos, aula de surfe, acampamento, mergulho na Grande Barreira, salto de pára-quedas entre outras presepadas.

Vou contar um segredinho: essa viagem foi a realização do maior sonho da minha vida. Desde os meus 15 anos eu pesquisei, planejei, viajei na maionese idealizando essa aventura. Hoje, com 23, oito anos de espera braba eu posso dizer que cheguei até aqui. Um dia eu vou contar isso pro meu neto...

À minha mãe, meu pai, meus irmãos, família de Campo Grande, família do Sul, cunhadas, kbças, pessoal do CDB, da UCDB, da UNIDERP, do ballet, aos meus amigos “sem grupo” nesta lista, à minha psicóloga e a todos os outros guerreiros que durante tanto tempo cederam os ouvidos pra escutar os planos mirabolantes da lenda “um dia a Jú ainda vai pra Austrália”, um sincero muito obrigada!
Seguindo viagem

Como viajante na estrada é igual soldado em combate, minhas histórias não páram por aqui. Próxima parada, Outback - o deserto australiano.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Cairns

Estou em Cairns, a principal cidade do norte do estado de Queensland e a última parada da viagem pela costa. Cairns está a apenas meia hora de ônibus de Mission Beach, a praia aonde saltei de pára-quedas. A cidade é bastante urbanizada e não tem praia de areia, embora tenha os pés a beira-mar. Cairns é principalmente conhecida como ponto de partida pra Grande Barreira de Corais, mas também oferece outras opções de lazer em terra firme que são show de bola. Uma das atrações que parte da cidade e que infelizmente pouca gente fica sabendo é o Tjapukai Cultural Centre, um centro de cultura aborígine localizado na pequena cidade de Kuranda que realiza apresentações de dança típica para grupos de turista.

Meu itinerário em Cairns foi mais ou menos assim: cheguei na cidade no dia 15 e logo na próxima manhã embarquei em uma excursão de dois dias para Cape Tribulation (postagem anterior). Lá fiz passeios na floresta e mais um mergulho na Grande Barreira (mergulho de snorkel, porque não quis pagar nem dinheiro e nem mico tentando respirar com cilindro de oxigênio outra vez). De volta em Cairns, passei um dia de molho no albergue organizando a mochila, lavando roupa, cortando unha na maior vagareza. À noite fiz o tal do passeio no centro aborígine que comentei. Nota dez! Foi uma das mais bem pagas atrações na Austrália e inclusive está na lista dos pontos altos de toda a minha viagem.

Um ônibus da companhia me pegou às 18h40 no albergue, depois de eu ser acordada de um profundo cochilo vespertino por um funcionário batendo na porta do quarto. Me vestí em dois minutos e entrei no ônibus com a cara amassada e assustada. Logo acordei e em dez minutos eu e mais toda a tropa do ônibus descemos no local. Já na chegada percebí o preparo da estrutura pra receber os visitantes: tochas, drink de boas-vindas, aborígines pintando o seu rosto. A esse ponto eu já estava no clima tribal, de cara amassada, assustada e agora pintada, super ansiosa pra saber o que iria acontecer.

As apresentações foram divididas em três partes. A primeira, dentro de uma sala grande e escura, com fumaça e efeitos de luz, um grupo de homens aborígines contaram uma breve história sobre sua cultura em forma de teatro. Em seguida, nós os turistas fomos guiados pra um ambiente externo ao som de didgeredoo (instrumento musical aborígine) enquanto tocávamos um outro tipo de instrumento no mesmo ritmo. Em círculo ao redor de uma espécie de altar debaixo das estrelas, os aborígines nos ensinaram um pouco de sua língua, música e dança e fizeram fogo da forma primitiva que conhecemos. Me sentí praticamente integrante da tribo!

Por último e tão emocionante quanto às duas primeiras partes foi o jantar e a apresentação de dança no palco do restaurante. Voltamos pro ambiente interno e logo achei a minha mesa solitária com uma cadeira entre as mesas compridas dos grupos grandes. Sentei-me feliz e com fome na minha mesinha e comí a minha melhor refeição desde que saí de casa em junho. Passados a sopa, salada, prato quente e sobremesa, os aborígines fizeram uma apresentação de dança típica por cerca de meia hora. No final da noite, voluntários foram chamados pra participar da bagunça e eu, cidona, fui parar no palco. Dancei com os aborígines e ajudei a acender fogo. Pensa que engraçado! Pela minha participação ganhei um bumerangue autografado pelos artistas da tribo. Foi uma noite muito marcante!

Aborígines – Os aborígines são a população nativa da Austrália, os índios australianos. Eles foram os primeiros a habitar o continente há cerca de 50 mil anos atrás. Quando os colonizadores ingleses chegaram no país em torno de 1770 existiam mais de 300 mil aborígines. Hoje, após serem massacrados e expulsos das terras produtivas pelo homem branco, eles beiram a extinção e representam apenas 1% da população australiana, cerca de 200 mil. Triste!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Cape Tribulation

Cape Tribulation é outra ilha que conheci. Cape Trib fica a 1h30min de Cairns e é um dos poucos locais onde a floresta tropical alcança a borda do mar. Os principais passeios por lá se baseiam em caminhadas pela floresta e banhos de rio. É um bom lugar pra ver crocodilos de água salgada e é também excelente ponto de partida pra Grande Barreira de Corais, pela proximidade com a Barreira e pela distância da civilização.

Participei de uma excursão de dois dias pela ilha e fiquei em um albergue no meio da floresta. Nadamos em dois rios e fizemos um passeio de barco atrás de crocodilos em habitat natural – vimos um big croc pertinho da gente.

De Cape fiz ainda mais uma ida à Grande Barreira, o que foi demais de especial. Desta vez a água estava ainda mais clara e os corais mais coloridos! Vi alguns nemos e de novo tive a sorte de nadar com uma tartaruga lado a lado! Foi uma sensação de paz incrível. Imagens guardadas no coração.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Crocodile Park

No caminho de Cairns para Cape Tribulation paramos em uma fazenda de crocodilos e outros amiguinhos da floresta australiana. Vimos crocs gigantes, de até cinco metros de comprimento, alimentamos cangurus e interagimos com outros anfitriões da casa. Eu me divertí! Lá também experimentei mais uma novidade gastronômica, comi torta de croc e estava uma delícia. O gosto é parecido com carne de frango, mas o sabor é mais leve. Fotos do meu momento Jane:

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Mission Beach

Hoje eu realizei mais um grande sonho da minha lista “não morrer sem fazer”: eu saltei de pára-quedas! Sensação inexplicável de liberdade! É adrenalina pura correndo do fio de cabelo até o dedão do pé. Foram 60 segundos de queda-livre a partir do salto a 4.200 metros de altura da praia de Mission Beach. Coisa de maluco! É preciso ter um parafuso meio frouxo pra ter vontade e coragem de olhar o chão a mais de 4 km de distância e simplesmente se jogar de um avião. Não pensei em nada, nenhum filme da vida passou pela minha cabeça, só gritei (muito) e deixei o minuto correr. Foi a maior loucura que eu já fiz e a mais gostosa das sensações! Nas fotos abaixo, um dos melhores momentos da minha vida:


Minha janta desta noite foi traumatizante. Eu não tinha dinheiro em mãos para comprar nem um ovo na recepção do albergue e o centro da cidade ficava afastado. A única comida que eu tinha comigo era um resto mortal da viagem à Fraser Island, uma lata de atum seco e sem tempero. Mandei ela toda com cara de quem comeu e não gostou só para matar a fome. Eca!

domingo, 14 de dezembro de 2008

Magnetic Island

Escrevo somente pra registrar minha passagem por Magnetic Island, mesmo não conhecido nada da ilha. Fiquei em Mag apenas algumas horas, da tarde do dia 13 à manhã do dia 14, no caminho entre Airlie Beach e a próxima parada. Passei todo o tempo no albergue, comendo e dormindo. Praticamente um coala, que se entope de eucalipto e cai no sono por 20 horas diárias. Só troquei as folhas por macarrão com atum, um mix dos restos mortais das paradas anteriores. Apetitooso! O albergue era muito bom, tinha ar condicionado, piscina e o mar a poucos passos, alívio pro dia quente e úmido que fazia, feito sauna a vapor.

Se eu tivesse tido tempo de conhecer a ilha, que tem em média 320 dias de sol a pico por ano, poderia caminhar pelos parques nacionais entre coalas, cangurus e pássaros livres leves e soltos na floresta, ir às praias, alugar caiaque, jet-ski, cavalo, bicicleta, qualquer meio de transporte montante, ou ainda saltar de pára-quedas. Essa última opção faz minha mão suar de tanta ansiedade, porque na minha próxima parada meus amigos eu vou pular de um avião.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Whitsundays

Dois dias e duas noites a bordo de um barco velejando entre as ilhas da Grande Barreira de Corais. Soa coisa top né?! E foi muito bom mesmo.

A Grande Barreira de Corais é o maior sistema de recifes do mundo, estende-se por 2.300 km na costa nordeste da Austrália e ocupa uma área de 300 mil km². É uma das mais antigas formas de vida, com pelo menos 500 milhões de anos, e pode ser vista do espaço. Mais de 2.000 espécies de peixes e corais habitam as mais de 2.000 ilhas que compõe a Barreira.

Fiz o passeio com outras 17 pessoas e mais três tripulantes. Saímos de Airlie Beach na tarde do dia 10 e retornamos na tarde do dia 12. Foram dois dias super relaxantes por Whitsundays, conjunto de ilhas da Grande Barreira de Corais. Ou se nadava ou se tomava sol no deck do barco. Êhh vidão! A comida a bordo por sinal era de lamber os beiços, também outra boa alegria do passeio.

No segundo dia, porém, passei por um momento frustrante. Não conseguí respirar na m*rda do tubo de oxigênio de mergulho. Entrei em pânico e não dei conta de brincar de respirar embaixo da água. Voltei chorando pro barco e o jeito foi nadar só de snorkel mesmo. O que não foi nem um pouco ruim, a maré estava baixa e os corais estavam a um metro da superfície.

Nadei com tartaruga, aquela zen do filme Nemo, e com peixes bonitos, diferentes e coloridos. Vi golfinhos de cima do barco e o que poderia ser um tubarão. Teve gente do meu barco que diz ter visto um quando estava nadando. Sou grata por ter visto bem de longe. Quanto à cor dos corais, não vou mentir e dizer que era uma caixa de lápis de cor, mas ainda era lindo de ver. Ouvi dizer que as ilhas da Grande Barreira que ficam mais ao norte são mais chamativas aos olhos. Quem sabe eu tenha a chance de mais uma tentativa de mergulho por lá. Dessa vez sem pânico, Juliana!

Do barco assistimos o sol nascer, se pôr e a lua iluminar a madrugada. O calor era grande e o céu muito bonito pra dormir dentro do barco, então puxamos nossos colchonetes pro deck e lá deitamos debaixo das estrelas.

Sem dúvida Whitsundays ficou entre os melhores passeios da minha viagem. Dias pra sempre na memória.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Kroombit

Kroombit foi uma parada totalmente diferente de todas as outras. Por um dia me senti a própria mulher do rei do gado. Paramos em uma espécie de fazenda fora do litoral e no meio de não muita coisa. Fomos recebidos por um cowboy em traje e sotaque próprios. Fizemos várias atividades que não se têm a chance de experimentar qualquer dia por aí. Pra mim todas elas foram novas e no mínimo engraçadas de tentar.

Aprendemos a jogar bumerangue, chicotear, laçar e atirar com espingarda. Meu desempenho foi de iniciante esforçado: meu bumerangue nunca voltou pra mim, meu chicote até que gritou alto, consegui laçar uma vez um pedaço de madeira parado e acertei um de cinco pratos com a espingarda. Nota cinco na atuação e nota dez na diversão.

Dois outros pontos altos de Kroombit foram a caça à cabra e o choque elétrico, no literal significado da palavra. Primeiro fomos divididos em grupos de quatro pessoas e a tarefa era laçar uma cabra e simular uma marca de ferro no bumbum da pobre coitada. Eu era o palhaço da brincadeira, como se pode confirmar na foto, e tinha que atrair a bixinha pro meio do círculo.

Por último fomos eletrocutados como um ritual de madoquismo conjunto! Uma loucura! Em círculo e debaixo de um temporal prestes a cair, o cowboy demorou fazer o grupo acreditar que a surpresa era de verdade. Os que eram malucos suficientes não deixaram a brincadeira. Dá uma olhada no vídeo: